Audiolivro ÁRVORE INEXPLICÁVEL
Saiu! E, além do resultado, o processo em si foi maravilhoso
Quem leu as newsletters anteriores, acompanhou meu canal do telegram ou alguma das minhas redes sociais durante julho e agosto, quando eu estava no Brasil, ficou sabendo que gravei o audiolivro de Árvore Inexplicável.
Desde então, estou prometendo newsletter sobre isso, mas segurei até agora porque faz mais sentido publicar com o link da venda (Audible deve entrar ainda essa semana). Assim, se você quiser, já pode saber onde achar e comprar ou pelo menos pôr na sua lista.
Queria contar os bastidores dessa experiência!
Na foto, dá pra ver que tem uma mesa à minha frente. Nessa mesa, ficava o monitor de onde eu lia o texto. Quem rolava o arquivo era a Bárbara, responsável por acompanhá-lo junto comigo e me avisar se eu tivesse comido bola. Tipo a vez em que era para dizer “azedo” e, por algum motivo incompreensível, eu disse “zoado”!
O microfone captava tudo, então, mesmo eu ficando sozinha dentro da cabine, tinha que tomar cuidado para não me mexer demais na cadeira, por exemplo, porque pegava cada rangido e daí eu precisava regravar. Quem me avisava disso era o Pedro, técnico de som. Os dois falavam comigo pelo fone, onde vinha baixinho também um retorno da minha própria voz (sem delay), o que me permitia ter uma noção de como estava saindo mesmo enquanto eu falava.
Mas vamos voltar lá para o começo. Eu não conhecia essa área, não imaginava quantas sessões seriam necessárias para dar conta de ler um livro enorme desses, então vou compartilhar o que descobri.
Quanto tempo para gravar um audiolivro?
O Enrico, responsável da editora, havia previsto 12 sessões para o tamanho de Árvore, cada uma de 3 horas, sendo a última reservada para correções. Isso é de praxe; mesmo com uma pessoa acompanhando o texto comigo, escapam umas frases enroladas, emendando palavras que criam cacofonia etc.
Quer dizer que eu passei 36 horas gravando?
Não, pois terminei em 8 sessões, contando a de correção. É só porque sou rápida? Não!
Antes das gravações, que iam começar dia 31 de julho, o Enrico estava preparando o arquivo do livro* e me deu uma sugestão PER-FEI-TA: como havia mudança de narradores, saindo da Diana e indo para o Tiago e a Mayara, o que eu achava de outros narradores fazerem os capítulos deles?
Sério, eu nem imaginava que podia pedir isso! Tem noção do quando isso enriqueceu o audiolivro? Claro que concordei. Outra coisa legal: pude participar do casting. Nessa altura, eu ainda não conhecia o pessoal do estúdio, mas o Enrico me garantiu que eles indicariam muitas vozes dentro dos perfis do Ti e da May.
Como foi o casting desses narradores?
Recebi três opções para cada personagem. Cada uma das seis gravações tinha entre 6 e 7 minutos, sendo as do Tiago uma boa parte do capítulo 34 e as da May uma passagem enorme do 42. Ouvi todas várias vezes. É mágico escutar profissionais dando vida às suas personagens.
O narrador do Ti, Marun Reis, foi nosso preferido (meu, do Enrico e da minha editora, Fernanda Dias). Já havia gravado um audiolivro da Companhia; o pessoal gostava dele. Logo que escutei as primeiras frases do teste entendi por quê. O Marun narra de um jeito que te pega pela mão e te conduz através das palavras pelos acontecimentos descritos. Você não só se sente na cena, como interagindo com o próprio Tiago.
Dei sorte de meu horário bater com o do Marun, e pude acompanhar seu primeiro dia de gravação (para dar conta dos capítulos do Ti, foram três!). Foi incrível! Eu podia dar o contexto de algumas cenas quando ele sentia necessidade de saber detalhes para decidir como direcionar a voz. Assistir a um profissional trabalhando é muito especial. Foi impressionante vê-lo mudando completamente a intenção de um parágrafo a partir de uma informaçãozinha de nada.
Claro que eu já tinha testemunhado coisa do tipo, afinal minha irmã Adriana é atriz e dubladora. Mas num contexto de estúdio, numa obra minha, com uma equipe de profissionais trabalhando para entregar o melhor? Cara, tremo só de lembrar.
A Gab Veneziani, narradora da Mayara, gravou tudo numa sessão de que não pude participar, porque ela só tinha horários em que eu estava ministrando meu módulo no ateliê de escrita criativa na Biblioteca São Paulo. Achei uma pena não conseguir vê-la tecendo sua mágica ao vivo, mas trocamos áudios (durante alguns, inclusive, eu estava no aeroporto, a caminho da Bienal do Rio).
Logo no casting eu me apaixonei pela voz dela. Era doce, mas não frágil. Nos momentos certos, adquiria um tom professoral sem ser arrogante. Nos trechos mais emocionantes (afinal, capítulo 42, né!), mudanças sutis de tom transformavam todo o sentimento da cena. Também foi votação unânime. A Gab conseguiu transmitir quem é a Mayara de um modo que eu nem sabia ser possível, pelas inflexões ao longo da narração. E ela publicou um reel muito legal falando sobre a experiência!
*Preparação do arquivo do livro: como assim?
Lá em cima, falei sobre o Enrico ter preparado o livro para a gravação. O que isso quer dizer? Basicamente, ele colocou balõezinhos de comentários com pronúncias que poderiam causar problemas, tipo nomes científicos de aranhas. E, durante as gravações, eu mesma acrescentei pequenas narrações entre diálogos bate-volta para deixar mais claro quem está falando. Não é fácil interpretar muitas personagens falando na mesma cena, embora o pessoal do estúdio tenha me elogiado :D
Rotina de gravação
Fiquei doente e não pude gravar dia 31 de julho, então comecei no dia 2 de agosto. Minhas sessões já estavam agendadas de antemão porque o estúdio tem uma escala pesada.
O Enrico já tinha feito recomendações, como articular bem as palavras, não ler nem rápido nem devagar demais, entre coisas mais específicas. Eu, que já fiz muito teatro nessa vida (mas só amador), tenho certa experiência de interpretação, e não quis uma narração monótona (no sentido de tudo no mesmo tom). Daí o Enrico achou legal, mas nada exagerado, talvez temendo eu ser caricata.
Depois da primeira sessão todo mundo ficou mais tranquilo quanto a isso hihi Quero saber o que você vai achar da minha parte (porque a do Marun e a da Gab não tenho a menor dúvida de que vai amar).
Quase todas as minhas sessões foram de manhã, o estúdio nos Jardins, eu em Interlagos na casa dos meus sogros, saindo uma hora e meia mais cedo, em pleno horário de pico, para chegar na hora. A parte boa é que isso já me preparava para estar bem no espírito da Diana hahaha E eu estava feliz da vida de saber que ia existir um audiolivro de uma obra minha! Não tinha imaginado que esse momento chegaria logo na minha carreira. Então nem o trem lotado conseguiu me deixar mal-humorada.
Da estação Paulista/Consolação até o estúdio dá cerca de meia hora andando, e o caminho era bom para refletir sobre a edição de PB2 (lembrando que nessa ocasião eu ainda não tinha mandado o livro pra editora).
Aí eu chegava um pouco antes do horário marcado e tomava café e batia papo com a Bárbara e o Pedro. Ficamos amigos ao longo das sessões.
Recebi feedback do livro em tempo real! A Bárbara virou fã (a maior honra do mundo). Lembra que eu falei que, durante a gravação, os dois falavam comigo pelo fone quando precisava refazer alguma parte? Em algumas ocasiões, a Bárbara comentou também o que tinha acabado de acontecer na história.
Um dia contei que meus leitorers fazem memes dos livros e mostrei um que a Flávia Reads me mandou e me faz rir até hoje:
Eis que concluo a leitura de uma cena do moçoilo e ouço a voz de Bárbara: “Carol, meu pano é rosa.” Rio só de lembrar. Mas teve momentos tensos também. Nos intervalos, ela xingou o Ti e o Miguel (você sabe quando), depois suspeitou de certa pessoa, morreu de medo de o Tadashi estar envolvido, perdoou muita gente. Em duas cenas, ela chorou. Na de narração minha, só percebi pela voz embargada quando me pediu para regravar uma frase. A outra foi bem no finzinho, na narração do Marun, eu acompanhando junto com ela e o Pedro pelo lado de fora da cabine. Eles também ficaram chateados com o que aconteceu; o Marun até soltou um “ah” muito triste e precisou regravar a frase.
Ambas as cenas na parte 3. Alguém adivinha quais foram?
Com o Pedro, eu conversava sobre o livro, gravações de audiobook e tudo mais nos quinze minutos de pausa. Teve só uma vez que ele comentou algo comigo pelo fone, numa cena em que a Yoko e o Ti estão jogando videogame. Achou engraçado como eu reproduzi um diálogo de gamers muito real.
Talvez porque eu seja gamer.
A sessão de correções
A última gravação não é seguidinha das demais, porque é preciso um intervalo para o pessoal da editora revisar. Essa revisão consiste em escutar a gravação pré-editada e conferir se está de acordo com o texto e se a pronúncia dos sons saiu limpa, sem língua enrolada, sem margem pra dúvida. Descobri, por exemplo, que em fim de particípios no plural é comum eu falar o “a” de um jeito que pareça “o” e vice-versa, como em “apressados”.
No ínterim necessário para a revisão, o que eu fiz? Muito bem: terminei de ministrar minha oficina na BSP e fui à Bienal do Rio, onde passei alguns dos meus momentos preferidos do ano. O problema é que lá eu fiquei sem voz. E ganhei de brinde uma tosse que não passava (e não era resfriado; até fui no hospital pra ver). Agora imagina: voltei do Rio dia 11 e a sessão de gravação era naquela semana.
Eu, rouca.
Coisa que nunca acontece.
E eu tinha que voltar pra Lyon dia 19.
Tive que remarcar a sessão do dia 12. Queríamos fazer sexta. Eu cuidei da voz o quanto pude, tomei remédio, mel, chá de não sei o quê, pastilha. Sexta continuava com a voz horrorosa. Segunda, dia 18, era meu último dia em São Paulo. E eu ainda estava rouca, embora um pouco menos ruim.
Bebi 3 litros de água e chá, chupei pastilhas durante a gravação toda, mas falei as frases que precisavam ser refeitas quase na minha voz normal (e tossi os pulmões para fora a cada vez). Olha, foi uma aventura, mas deu certo!
Avaliação do livro na Amazon
Queria te pedir uma coisa.
Mesmo se tiver comprado o livro em outro lugar, ganhado de presente, recebido em sorteio etc., você deixaria avaliação na Amazon? É só ir em avaliar o produto > escreva uma avaliação. Ele vai pedir um título e umas palavras além das estrelinhas, mas me ajudaria muito se você tirasse dois minutos pra fazer isso, porque quanto mais avaliações boas tem um livro, maiores as chances de os algoritmos da Amazon o sugerirem. Se você já tiver postado algum comentário no Goodreads ou no Skoob, é só copiar e colar lá.
Árvore Inexplicável fez um ano em agosto. Normalmente, nessa época as vendas começam a cair. As minhas parecem estáveis, estilo devagar e sempre, mas o desempenho de cada livro meu interfere diretamente em quando e como sairão os próximos, por questões mercadológicas, evidentemente. Então, se você quer saber como ajudar a fazer meus livros saírem mais rápido e sempre tão bonitos, essa é a resposta: além de indicar pros amigos e família, deixar avaliação e pedir pras pessoas que você tiver influenciado fazerem igual.
A quantas anda Ísis 2?
Avisei no Telegram que finalmente enviei o livro pros meus editores dia 4 de outubro. Como esse mês teve Feira de Frankfurt, estava tudo uma correria, mas me prometeram feedback em novembro. Dia 1 ou dia 30? Não sabemos. Só dá para esboçar uma data de lançamento depois que eles me devolverem, porque só então saberei quanto trabalho terei pra editar o livro.
De novo? Sim. O que eu estava fazendo até agora era uma pré-edição, para enviar o livro o mais limpo possível. Mas fiquei meses e meses em cima do texto sem parar, então deve ter escapado um monte de problema. Alguns são fáceis de resolver, outros nem tanto. Torça por mim!
Estudando desenho
Falarei disso em mais detalhes numa newsletter futura, né, mas você já sabe que estou aprendendo a desenhar. Um desejo antigo, que eu julgava impossível. Mas, depois de virar esritora profissional, compreendi (e só esses dias aceitei) que escrever não poderia ser mais meu hobby. Então falei: ok, a hora é agora.
Postei pelas redes minhas primeiras tentativas. É um mundo novo, um mundo inteiro com mil universos dentro. Isso me dá um puta tesão. Eu amo aprender coisas novas, principalmente as que parecem inalcançáveis.
Eu terminei esses dias uma tirinha do PorémVerso, que preparei para uma newsletter específica que VEM AÍ. Até o final do ano, se a Terra quiser. É só uma página, mas contabilizando as horas de trabalho levei uns três dias. Ainda estou aprendendo a desenhar, a sombrear, a colorir, a usar o programa (Clip Studio Paint), então saiba que cada linha me consumiu muito tempo.
Mas o resultado me deixou feliz, ansiosa por compartilhar.
Me conta sua frase preferida dos meus livros!
Comecei a postar uma série de vídeos com leitores gravando seus trechos preferidos de Porém Bruxa, Árvore Inexplicável e Senciente Nível 5. Num primeiro momento, pedi pelo telegram às pessoas interessadas em contribuir, mas agora peço aqui. Se quiser, grava você lendo seu trecho preferido e coloca no Drive para eu poder pegar lá, editar e postar.
Por enquanto, saíram os vídeos de Parker e da Annaliz, se quiser ver como ficaram.
Decidi incluir indicações no final. Me conta se curtiu a ideia!
Livro
A primeira é do livro Às Margens do Tempo, escrito por seis autoras (Mariana Chazanas, Patie, Bettina Winkler, Vlaquíria Vlad, Karine Ribeiro e Carol Camargo), cada uma narrando um pedaço da história de uma casa com um árvore. Mas não são contos exatamente, antes fragmentos, fora de ordem, de uma narrativa geracional, que saem do século XIX e chegam numa distópica metade do século XXI. Um poético quebra-cabeças com a nossa história, personagens cativantes e histórias diferentes, entrelaçadas pela ancestralidade. Falei um pouquinho sobre ele em vídeo no Reels.
Catarse
Sobreviventes de Fronteira, do Fred Rubim. Ele já ilustrou muito pro Felipe Castilho e pro Enéias Tavares, dois autores fera e meus amigos. Essa HQ é toda do Fred, vai sair pela editora Hipotética, independente, de outros amigos muito queridos, o Fabiano e a Íres, e faltam só 5 dias para acabar a campanha, que está em 79%. Dá uma olhada!
Vou me despedindo (pois o Substack avisou que estou perto do limite máximo). Lembrando que, se você quiser o audiolivro, dá pra encontrar aqui.
Mando surpresinhas muito em breve o//
eu amei muito conhecer os bastidores de produção de um audiolivro. e no seu caso foi com bastante emoção hahaha parabéns, Carol!
Tão emocionante te ler falando do processo do audiolivro, da pra ver que foi mt pessoal, algo q todo mundo tava envolvido de coração, vou ouvir com toda certeza! E tô bem curiosa com essa tirinha com seu desenho. Vem coisas mts legais por aí!